Cobra Sofia (Disco)

Cobra Sofia e Outras Lendas Amazônicas

Para ouvir o disco:

1 – Cobra Sofia (20:25)
2 – Uirapuru (4:55)
3 – Mapinguari (5:38)

4 – Cerimônia (8:20)

Composições de Rafael Senra (exceto faixa 4, com melodia de Rafael Senra e letra de Christina Ramalho).

Guitarras, teclados, vocais, baixos e violões tocados por Rafael Senra.

Baterias das faixas 01 e 04 tocadas por Forlan Gomes.

Alan Flexa

Mixagem e masterização do disco: Alan Flexa – Estúdio Zarolho (exceto faixa 03, mixada por Rafael Senra).

Canções gravadas no Home Studio Alfa Serenar e no Estúdio Zarolho no primeiro semestre de 2021.

Arte da capa: Christina Ramalho.

Disco dedicado ao amigo Luiz Filipy Melo (in memoriam).

Release

Cobra Sofia e Outras Lendas Amazônicas é o terceiro disco do Projeto Alfa Serenar, gravado em 2021 e lançado em 2022 pelo selo polonês Progshine Records. Apesar de não ser um álbum propriamente conceitual, as quatro faixas desse trabalho trazem temas relacionados a mitos amazônicos diversos.

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Forlan Gomes

Mixado e masterizado por Alan Flexa (Estúdio Zarolho), o disco conta com performances do idealizador do projeto Alfa Serenar, Rafael Senra, além da participação dos músicos Forlan Gomes (baterias) e Betânia Hernandez (violinos). Toda a produção e pós-produção desse trabalho foi feita na capital do Amapá, Macapá.

Além do disco em si, Rafael Senra também fez um videoclipe da canção “Cobra Sofia”, que conta com desenhos baseados nos eventos narrados na letra. Estes mesmos desenhos foram transformados em uma história em quadrinhos chamada Cobra Sofia, lançada pela Editora Marca de Fantasia.

História do trabalho

Rafael Senra: “Esse disco nasceu no início de 2021, despretensiosamente. Certo dia, ao tomar banho, comecei a cantarolar uma melodia circular, uma espécie de “riff”, que logo corri para gravar em meu home-studio. Era um curto tema musical instrumental baseado no som de marimbas que se repetiam, com forte inspiração da música tradicional da Indonésia (um estilo conhecido como “gamelão”). Fui gravando camadas para esse riff, e mostrei o resultado para o amigo Luis Filipy Melo, que logo disse “cara, isso é bom demais para ser tão curto. Esse tema merecia uma música longa ou até mesmo um álbum conceitual”!

A provocação de Filipy foi feita em um período de recesso das aulas na universidade, e cresceu em mim a vontade de fazer, se não um disco conceitual, pelo menos uma faixa longa baseada naquele riff. Fui gravando vários capítulos e trechos desdobrados, todos com melodias modais e variações (tonais ou rítmicas) que respondiam ao trecho inicial. O resultado gerou uma canção épica chamada “Cobra Sofia” – um longo tema de vinte minutos dividido em cinco partes (a parte de marimbas original fica na parte 2, intitulada “Sofia”).

As baterias foram gravadas posteriormente no estúdio Zarolho, e foram tocadas por Forlan Gomes. A letra da canção foi baseada em um mito recorrente de várias regiões da Amazônia, que atende por vários nomes, como Cobra Grande, Boitatá ou Cobra Norato (esse último inspirou um notável livro do modernismo brasileiro, escrito pelo poeta Raul Bopp).

Os detalhes da letra (como os nomes de Icorã e Tucuxi) foram extraídos da versão da lenda da Cobra Sofia narrada na obra Mitos e Lendas do Amapá, escrita pelo jornalista Joseli Dias, e que foi republicada em 2020 pela Editora do Senado Federal. Essa específica versão é própria da cidade de Santana, no Amapá, onde atualmente trabalho, e foi contada por meus alunos. Dizem que ela mora embaixo da cidade, e, em momentos de fúria, se mexe no subsolo e faz tremer a superfície. Inclusive, os moradores de lá acreditam que um desabamento ocorrido no Porto de Santana, em 2013, aconteceu por ação desta cobra.

Após gravar “Cobra Sofia”, pensei em outras faixas que pudessem completar o repertório de um disco todo calcado em lendas amazônicas. Um tema instrumental com fortes bases eletrônicas foi gravado em 2020, e se tornou a faixa “Mapinguari”.

Nenhuma descrição de foto disponível.
Betânia Hernandez

A canção “Uirapuru” também foi composta em 2020, e gravei sua versão definitiva em 2021. Essa é uma faixa do disco mais calcada na MPB tradicional, e conta com arranjos orquestrais meus tocado pela violinista venezuelana Betânia Hernandez. No segundo semestre de 2021, essa canção acabou se tornando finalista do I Festival da Canção Macapaense – I FESCAM, e toquei uma versão ao vivo com a banda de apoio do festival no Centro Cultural Céu das Artes (Macapá – AP). Essa performance foi transmitida ao vivo, e acabou rendendo as imagens para um videoclipe disponível no You Tube.

Christina Ramalho

O disco encerra com a canção “Cerimônia”, que conta com letra da professora, poeta e artista plástica Christina Ramalho. Esse tema era originalmente tocado por mim com uma batida bem típica da MPB, e Christina fez uma letra que louva as belezas da Região Amazônica. No disco, ela foi gravada com um acento bem mais puxado para o rock progressivo sinfônico.

Ainda a respeito de Christina, vale mencionar aqui um caso sensacional de pura sincronicidade e sintonia: sem saber que eu gravava esse disco baseado no mito da Cobra Sofia, Christina pintou um quadro com a própria Cobra Sofia! Sua incrível pintura acabou se tornando a capa do disco.

 

Foi quando finalizei o trabalho que, ao me dar conta do caráter narrativo da canção “Cobra Sofia”, me ocorreu a ideia de fazer um clipe com desenhos que contariam sua história.

Sendo um típico tema de rock progressivo, a música tem mais de vinte minutos. No fim das contas, devo ter passado quase seis meses fazendo essas ilustrações e editando tudo – ou seja, demorei bem mais para fazer o clipe do que para gravar o disco inteiro. Essas imagens foram adaptadas por mim para uma revista em quadrinhos, chamada (claro!) de Cobra Sofia, e lançadas em 2021 pela Editora Marca de Fantasia.

Porém, não foram só alegrias que permearam o universo emocional desse trabalho. Logo que finalizei o disco, soube que meu amigo Luiz Filipy Melo havia falecido. Ele era psicólogo, morava em Pernambuco com a família, e nos falávamos quase todos os dias. Filipy foi um grande apoiador das minhas atividades artísticas, e, sem o incentivo dele, tenho certeza que não existiria essa obra agora materializada em música e quadrinhos. Por isso, dedico o disco e a HQ à sua memória”.

Luiz Filipy Melo

 

Resenhas da obra

Eduardo Guerreiro Losso (Professor de Teoria Literária na Faculdade de Letras da UFRJ):

“1- Provavelmente é a melhor produção multimidiática do progressivo brasileiro já feita.

2- Lenda indígena, música, quadrinhos: obra total em videoclip. O progressivo clássico raramente explorou essas possibilidades, por falta de dinheiro e condições de produção nos anos 70. O neoprogressivo tampouco. E mesmo o rock brasileiro em geral.

3- A grande exceção é The wall, de Pink Floyd. De qualquer modo, as longas suítes sempre incorporaram essa ideia em potencial. E ela esteve intensamente presente na imaginação auditiva do público.

4- Novos quadrinistas têm feito versões de clássicos no youtube (especialmente de Genesis e Rush), o que é uma tendência bem consistente da imagem se imiscuir entre a música e a letra.

5- Como o rock progressivo está crescendo cada vez mais na cena mundial, fãs novos e antigos acompanham com grande interesse tais iniciativas.

6- Rafael Senra, um brasileiro, inova essa cena, pois compõe, ele mesmo, a música, os quadrinhos e o videoclip, isto é, toca todos os instrumentos, musicais e midiáticos.

7- Um lance especialmente inventivo para o rock brasileiro contemporâneo. Não é pouca coisa.”

Gazy Andraus (Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, autor de quadrinhos e pesquisador):

“Um trabalho artístico muito rico e complexo: a sua MPB+rock progressivo+semi-animação+HQtrônica, tudo em 5 partes contando uma história regional e nacional, e com passagens viajantes (especialmente na parte 2), extasia e embala quem assiste/ouve!

Eu, como um que ouviu e viu, me deixei embalar devido ao som e às artes (e a história). Para uma pessoa só – Alfa Serenar (anagrama nominal do autor), ter tido quase todo o trabalho de arte, edição e animação (com exceção da contribuição de dois músicos nas faixas sonoras), é uma epopeia dantesca de trabalho, lindíssima, e que precisa urgentemente ser trazida à baila, não só nas áreas culturais do Brasil (e até exterior), mas principalmente na manutenção da educação artística, escolar e universitária!

Passou da hora do Brasil reconhecer suas artes aqui produzidas, sob pena de jamais conseguir uma comunhão nacional cultural de arte – não necessariamente regional, mas pluridiversificada como o é o país – mas de produção dos autores/artistas brasileiros.

Afinal, as bandas Angra e Sepultura não foram reconhecidamente mundiais como de excelência? A criatividade dos desenhos animados do personagem “Irmão de Jorel” já não demonstraram o potencial incrível e criativo que trazem? HQs como as Edgar Franco e seu pós-humanismo não têm sido objeto de estudos de áreas acadêmicas também estrangeiras? O Brasil, este gigante adormecido que assim tem sido, precisa desibernar de vez. Em todas as áreas, mas especialmente na tão pisoteada área cultural!

Parabéns a Senra pela belíssima lição de vida e arte com este seu poema-narrativo-HQ-sonoro-animado! É hora de a Cobra Sofia explorar o país…e o mundo, destilando a eles, não um veneno, mas sim, sua poética e lirismo, demonstradas nesta obra!”

 

Prog Rock Journal / Jacopo Vigezzi (Resenha do disco Cobra Sofia feita pelo site europeu Prog Rock Journal. Segue um trecho, em tradução livre do inglês):

“Uma escuta agradável, fluindo do início ao fim, que tem seu ponto forte na trilha de abertura épica, que melhor expressa o conceito musical do artista. Uma escuta para todos os amantes dos sons sinfônicos do Prog, com referências marcantes aos grupos brasileiros dos anos 70. As letras nos permitem ouvir lendas tradicionais amazônicas na música, se revelando muito interessantes e envolventes”.

https://progrockjournal.com/review-alfa-serenar-cobra-sofia-e-outras-lendas-amazonicas/